• Avaliação Viva o Cinema:

Logo no início de Dias Perfeitos, a câmera fica estática seguindo o protagonista, Hirayama, e sua rotina. Inclusive ele colocando uma fita cassete no carro e sendo feliz, mesmo em um emprego tão pouco valorizado como limpador de 18 banheiros públicos de Tóquio. Então a câmera começa a mostrar a modernidade de Tóquio. Ou seja, o longa cria um interessante contraste entre a fita cassete e a modernidade da cidade.

Tem uma cena muito bonita no início do filme, quando um rapaz entra no banheiro como se não estivesse ninguém e Hirayama sai e olha uma árvore, uma de suas paixões, com um olhar esperançoso de dias melhores. Com tudo isso, o diretor Wim Wenders pergunta ao espectador o que é ser feliz?

Hirayama repete sempre a mesma rotina, no nascer do Sol. Sempre almoça em um banco dentro de um templo budista, fotografa árvores e come a mesma comida. E a câmera sempre bem posicionada, focalizando a luz neon rosa que brilha no quarto de Hirayama. Uma rotina bem detalhada. A intenção de tirar o melhor dos pequenos detalhes. A janela ao lado que o diretor utiliza para filmar a curta caminhada até o carro. O diretor nos faz íntimo do personagem.

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Segundo Wenders, ele sabia da cultura dos banheiros públicos do Japão. Inicialmente ele foi chamado para fazer um documentário sobre o processo de renovação urbanística de um bairro de Tóquio e começaria também pelos banheiros públicos. O cineasta aceita a ideia, mas acaba com a intenção de fazer um documentário.

O longa tem uma abordagem solitária, quase com um personagem somente na tela, mas tenta tirar felicidade das pequenas coisas. A abordagem é o tempo todo positiva e sempre Hirayama está com um sorriso no rosto.

Wenders utiliza aqui muito de uma característica da sua filmografia que é, às vezes, se afastar do protagonista, para se aproximar de uma abordagem documental da limpeza dos banheiros públicos de Tóquio. Quando ocorre um problema com um colega, Hirayama acha um absurdo. , pois o trabalho é a sua vida e ele tem toda uma rotina ritualística para limpar os banheiros.

Essa alegria vem de se sentir útil para a sociedade, mesmo com um trabalho tão pouco valorizado. É um filme encantador com um belíssimo final, um dos melhores dos últimos tempos.

Koji Yakusho entrega um trabalho perfeito como Hirayama e com justiça ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes. A Academia estava dormindo ao não indica-lo a melhor ator?

Enfim, o longa foi indicado ao Oscar de melhor filme internacional.