• Avaliação Viva o Cinema:

A sinopse de O Conde já chama a atenção. Augusto Pinochet, antigo ditador chileno, é agora um vampiro com 250 anos e vive em uma casa isolada. Mas agora ele está decidido a morrer de vez. Frustrado em sentir o desprezo e uma família oportunista, não vê mais razão na vida. Contudo ele acaba descobrindo uma inspiração que lhe faz esquecer da ideia de morrer.

O filme começa mostrando uma casa luxuosa e uma marcha militar ao fundo, já dando uma dica do que iremos assistir. Então, uma voz começa dizendo que o Conde, ou seja, Pinochet, já tomou sangue de todos os lugares do mundo. Aqui vemos uma alegoria de como um regime ditatorial e fascista suga o sangue das pessoas.

A voz continua dizendo que Pinochet já provou o sangue do trabalhador e não recomenda. Aqui uma outra crítica de que quem mais sofre com um regime fascista é o trabalhador. Então, a narração continua dizendo que Pinochet combateu revoluções populares em outros países, mas cansado de ser um soldado, quis ser comandante em “um país insignificante”, neste momento aparece a bandeira do Chile. Uma provocação do diretor Pablo Larráin.

E a voz continua dizendo que em 1973, Pinochet deu um golpe de Estado, derrubando o governo de Salvador Allende. O mais interessante neste momento é quando a narração diz exatamente o seguinte: “embora parecesse um cafetão em um império mafioso de uma República de Bananas.” Outra provocação do diretor. A voz continua dizendo que por 4 décadas , Pinochet foi o general e que quando desconfiaram da sua fortuna, ele forjou a própria morte. Mostrando aqui que em uma República de Bananas, os poderosos sempre armam um jeito de escapar de uma punição. Algo mais atual que isso?

Mais sobre O Conde

A sátira é mostrar um ditador como um vampiro, ambos sugam tudo o que podem de um país. Em um jantar com os filhos, Pinochet diz “o que vou fazer em um país que me detesta”. Aqui mostra outro traço dos ditadores, a egolatria.

Aliás, a cena do jantar com a esposa e os filhos tem um diálogo primoroso. Outro momento imperdível é o diálogo entre Pinochet e sua esposa em uma mesa de chá.

O filme mostra também como o ser humano pode ser desonesto. Quando os filhos de Pinochet começam a dividir a fortuna roubada do pai como carniças. É de dar nojo. O longa também critica aos seres humanos e como a ambição pode nos tornar frios. Isso fica claro quando, mesmo com Pinochet morrendo, seus filhos só pensam na divisão dos bens.

O mordomo, que era chefe de um campo de concentração, diz a Pinochet, com a maior tranquilidade, que ensinou seus homens a matarem por prazer e dar choque elétrico nas mulheres, como se fosse trocar de roupa, tamanha a banalização. A fotografia em preto e branco é um reflexo do caráter dos personagens e é um deslumbre.

Mas o filme se perde quando tira o foco de Pinochet e aborda outros personagens. Um dos grandes erros do filme é se fixar muito no terror e esquecer a comédia e a sátira, que poderiam ser melhor exploradas.

Enfim, o filme está no Netflix.